Um fenômeno silencioso, porém impactante, está remodelando as práticas de consumo e negócios: a reduflação. Esse não é apenas uma tendência mundial, mas um golpe duradouro no bolso do consumidor.
Você já percebeu que está levando menos produto para casa, enquanto sua conta no caixa permanece a mesma? Esta constatação não é mera intuição; os produtos realmente estão ficando menores, e você continua pagando o mesmo preço.
Embora o termo “reduflação” possa ser novo para você, os efeitos em seu bolso são notáveis. Empresas têm adotado essa prática que consiste em oferecer menos pelo mesmo preço. Isso é feito por meio da redução do peso líquido dos produtos, diminuição do tamanho das embalagens, e redução do número de unidades por pacote. As empresas também podem diminuir reentrâncias e aparar cantos das embalagens, o que diminui ainda mais as chances dos compradores perceberem a mudança. Essas estratégias resultam em um aumento efetivo dos preços, contribuindo, assim, para a inflação.
A chamada “Shrinkflation” – ou reduflação – que envolve a redução do tamanho ou quantidade de um produto enquanto seu preço permanece inalterado, está se intensificando globalmente. Diante de desafios econômicos como o aumento dos custos de matéria-prima, gargalos na cadeia de suprimentos e elevação dos salários dos trabalhadores após a pandemia, os consumidores acabam sendo os mais afetados, absorvendo o impacto desses crescentes custos de produção.
Seja papel higiênico ou um pacote de batatas fritas, a prática ocorre principalmente em tempos de inflação e está cada vez mais comum e estabelecida. Alguns supermercados optam por alertar os consumidores diretamente na prateleira quando o conteúdo de um pacote diminui, sem uma correspondente redução de preço. O problema da reduflação afeta consumidores em todo o mundo, chegando ao ponto de ser explicitamente criticado pelo atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Em uma declaração recente, ele expressou sua frustração, destacando: “o que mais me deixa irritado é que os potes de sorvete realmente encolheram de tamanho, mas não de preço”.
Os consumidores, naturalmente insatisfeitos, especialmente porque seu poder de compra está sendo comprometido pela inflação, enfrentam um problema mais persistente: experiências anteriores demonstram que o fenômeno da reduflação não se encerra mesmo com o fim da inflação. O problema não vai desaparecer, mesmo se a economia se recuperar e a inflação diminuir.
Frequentemente, os consumidores estão tão focados no impacto das suas compras em suas finanças, que ficam mais propensos a notar os aumentos de preço do que a redução na quantidade do produto. Muitas vezes, as mudanças nas embalagens são graduais e não são imediatamente percebidas pelos consumidores. Ao manter os mesmos preços, enquanto a mudança é praticamente imperceptível, as empresas conseguem evitar que os consumidores sintam a diferença de forma abrupta.
Considere, por exemplo, uma barra de chocolate que, há um ano, pesava 200g e hoje pode ser encontrada com apenas 80g, mantendo o mesmo preço. O que agrava a situação é que as embalagens mantêm dimensões semelhantes, dificultando a percepção das mudanças. Assim, um consumidor menos atento poderia facilmente não notar a diferença entre um iogurte de 150g e outro de 180g.
Uma vez que os novos tamanhos de produtos chegam às prateleiras, eles tendem a se tornar permanentes. Sem alternativas disponíveis, os consumidores são forçados a se adaptar a essas mudanças. Em alguns casos, os consumidores podem optar por produtos com melhor relação custo-benefício, reduzindo a fidelidade à marca, especialmente durante períodos de reduflação. Contudo, quando se trata de itens essenciais, as opções podem ser limitadas. Por exemplo, se um consumidor depende de fórmula infantil e a loja oferece apenas uma opção, ele acaba obrigado a pagar o preço estipulado e aceitar o conteúdo disponível na embalagem.
Apesar de o reduflação estar frequentemente associado à inflação, os tamanhos dos produtos raramente retornam ao original mesmo após a melhora das condições econômicas. As empresas geralmente aproveitam a oportunidade para reduzir a quantidade do produto oferecido, mantendo ou aumentando o preço.
No Brasil, um projeto de lei busca combater essa prática. Caso aprovado, a informação quantitativa deverá aparecer nos rótulos das embalagens por um prazo mínimo de dois anos se a redução for superior a 10%, aumentando a transparência para o consumidor. Essa iniciativa busca coibir a prática de camuflar preços, que vai de encontro ao dever de boas práticas comerciais e viola os princípios de transparência e boa-fé estabelecidos pelo Código de Defesa do Consumidor.
De acordo com a legislação vigente, as embalagens devem destacar quaisquer reduções no conteúdo dos produtos durante seis meses após a alteração. Esses avisos devem ser impressos em uma cor que se destaque e com uma fonte de tamanho mínimo de 12. Por exemplo, se um pacote de biscoitos agora contém quatro unidades a menos, essa alteração deve ser claramente indicada para o consumidor. O mesmo princípio se aplica às alterações na composição dos produtos. Por exemplo, se um suco de uva é adoçado com suco de maçã, ambas as frutas devem estar ilustradas na embalagem e mencionadas na descrição detalhada do produto. No entanto, apesar dessas notificações, muitas vezes as mudanças ainda passam despercebidas pelos consumidores. A prática da reduflação revela a necessidade de uma fiscalização efetiva e de medidas adicionais que reforcem a aplicação e o cumprimento das normas vigentes no Brasil.
Para o consumidor, é essencial redobrar a atenção para garantir que as compras sejam feitas de forma inteligente. Se a quantidade diminui, o produto pode não ser suficiente para o consumo da família, o que pode levar a gastos adicionais. Na prática, muitos consumidores só percebem a redução quando o produto acaba mais rápido que o esperado, levando ao supermercado mais vezes para atender às suas necessidades. Com o tempo, isso resulta em menos dinheiro disponível para gastar em outros produtos e serviços, estendendo o impacto da reduflação muito além do simples carrinho de compras.
Por Marceli Fonseca

MARCELI FONSECA
Especialista em contabilidade, consultoria e gestão.
Diretora do Instituto Mulheres Que Contam
Diretora de marketing do SESCON/RJ